Mudança

Tal como o poeta afirmou há uns séculos atrás, vivemos num mundo composto de mudança, mudança esta que se manifesta em tudo à nossa volta, mas também em nós próprios, quer a nível físico, quer a nível psicológico. E senão vejamos: o que é o processo de nascimento, crescimento e envelhecimento senão um lento processo de mudança que vamos atravessando. E o que dizer nas mudanças que vão sofrendo os nossos gostos, as nossas opiniões, os nossos desejos...

A mudança é efetivamente um aspecto permanente na nossa vida o que não faz com que saibamos sempre lidar com ela da melhor forma. Muitas vezes os processos de mudança que atravessamos trazem anexos uma crise na nossa vida. Desde o "simples" mudar de casa até ao mudar de emprego, ao mudar de estado civil, ou ainda outras mudanças que ultrapassam completamente a nossa vontade ou o nosso controle (como por exemplo o falecimento de um ente querido) são situações que afectam significativamente a nossa estabilidade e consequentemente o nosso equilíbrio psicológico.

Não é por acaso que os tratados de Saúde Mental consideram que a mudança é um factor de risco e que estas situações devem ser prevenidas a nível da prevenção primária. O que é que isto significa? Significa que naquelas mudanças que conseguimos prever, deve haver uma particular atenção a sinais que anunciem uma crise; uma tristeza inexplicável, vontade de chorar sem uma justificação, dificuldades de sono, irritabilidade permanente, dificuldade em concentrar a atenção, podem ser sinais de alarme que não devem ser ignorados.

Por muito naturais que nos pareçam certas situações, como é por exemplo o caso de mudarmos de escola quando passamos de um ciclo de ensino para outro, ou quando entramos para a universidade, há uma série de novas rotinas que são abruptamente introduzidas na nossa vida e que vêm pôr em causa o equilíbrio em que ela se encontrava; procurando representar esta situação, podemos imaginar a balança de pratos que está suspensa com os seus pratos equilibrados ( ou eventualmente com um ligeiro oscilar) e à qual damos de repente um puxão num dos pratos. O que é que acontece? Os dois pratos sobem e descem violentamente até perderem o impacto da força que lhe aplicamos e gradualmente irem recuperando o seu equilíbrio. É o que nos acontece a nós mas com uma particularidade: aquele período em que os pratos oscilam para cima e para baixo com alguma violência pode ser particularmente doloroso em termos emocionais para nós. Pode provocar um mau estar psicológico difícil de suportar, e nalguns casos quando as pessoas são mais frágeis, terem grande dificuldade de recuperar o equilíbrio sem um auxílio exterior ou ficarem com algumas "cicatrizes" dessa recuperação.

Não estou com isto a dizer que a mudança é uma coisa negativa na nossa vida. Como dizia alguém cujo nome não me ocorre neste momento, "só as estátuas não mudam, e toda a gente sabe o que os pombos lhes fazem em cima". Mudar é uma coisa tão natural como o nosso próprio processo de vida. Mas a velocidade cada vez maior com que as mudanças ocorrem, fazem por vezes com que elas se sucedam a um ritmo que se torna impeditivo de, antes de sofrermos outra mudança, tenhamos tempo de nos adaptarmos à que sofremos anteriormente. Quanto a isso, estas gerações atuais estão em clara desvantagem relativamente às gerações dos nossos avós.

Resta-nos usufruir da forma mais saudável possível de todas as vantagens que estas mudanças nos trazem, sem nos deixarmos "cilindrar" por elas.